SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: [email protected]. e: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

Ser ou estar cara de pau 2y1i5w

Existe uma diferença descomunal entre as condições de ser e de estar. Tanto um verbo como o outro pode ser empregado no sentido de camuflar um atributo, uma condição social, física, mental, moral ou promissória. Melhor do que definir vêm os exemplos encontradiços. Vale o registro desse recurso psíquico, social, relacional, do eufemismo ou minimalista entre as pessoas. Os próprios órgãos oficiais, as políticas de cidadania nos regimes democráticos e socialistas empregam esses qualificativos. Aos exemplos para melhor entendimento.

Na saúde. Observem bem as explicações ou termos para se referir a muitos indivíduos obesos. ‘Estou meio obeso’. O correto, seria eu sou obeso. O que se tem na maioria das vezes são variações de peso. Imagine um obeso de 120 quilos. Ele perde cinco quilos e sente-se otimista, ou seja, perdeu momentaneamente cinco quilos. Repita-se: perdeu momentaneamente, menos de 5% do peso de 120 quilos; que deveria ser no máximo 70 quilos. Em grande parcela dessas pessoas, estas têm o perfil pessoal e familiar de obesidade, doença crônica de cura difícil e multidisciplinar. É bem apropriado o termo efeito sanfona de muitos obesos, ele perde cinco quilos, depois ganha dez quilos, perde de novo sete quilos, ganha cinco quilos. Efeito sanfona. É também chamado trabalho de sísifo (mito): do rola pedra ao cume da montanha, desce pedra, rola. Trata-se de um estado reco-reco ou moto-contínuo de inutilidade.

Honestidade e correção moral. Nos órgãos financeiros oficiais, Caixa Econômica por exemplo, o devedor contumaz é chamado de inadimplente. Fulano está inadimplente. Nunca se usa o termo caloteiro. Não, vamos corrigir, fulano, beltrano, sicrano não está, ele por natureza é caloteiro contumaz. Ele traz essa natureza, calotear, é seu modus vivendi. O próprio Congresso apresenta agora, um projeto de lei, para punir e extirpar o chamado devedor contumaz de tratativas com órgãos privados e oficiais. Um sujeito toma um empréstimo e nunca paga, até a dívida caducar. Na verdade, um tremendo folgado e cara de pau. Sequer usa óleo de peroba! Por que será, hein?!?

Trabalho e produtividade. Muitos são os indivíduos, que se declaram ou são tachados por quem são cúmplices e complacentes dele, de estar desempregado. Um termo eufemístico para o sujeito vagabundo e que vive às expensas de familiares e até auxílios do Estado. Corrige-se: ele não está, ele é um desocupado por conveniência. Ele é desempregado e desocupado recalcitrante! Porque existem inúmeros meios do indivíduo produzir como empregado de alguém ou empresa pública ou privada ou laborar de forma autônoma, basta a energia e iniciativa de fazê-lo. Quantos ambulantes, trabalhadores autônomos no início da vida, e depois tornam-se bem-sucedidos e ricos!

Saúde física e mental. As referências aos estados de diagnósticos em saúde orgânica e mental são inúmeras, são nominações repletas de eufemismo, minimização de gravidade, camuflagem ou autoenganos. Um expediente muito comum são os diminutivos. Um infartozinho, uma pneumoniazinha, um diabetesinho, uma infecçãozinha, etc. Outro recurso adotado, o termo “início”. Sicrano tem um início de derrame cerebral, um início de infarto, de diabetes, de pneumonia. Quando o correto seria os termos leve, moderado ou grave. Hipertensão leve, moderada ou grave. O recurso e expediente mais nocivo seria o de omissão ou negação do diagnóstico. Este último expediente se dá pelo estigma que as doenças trazem: uma doença mental, uma doença incurável, um desvio de comportamento, etc.

Cooperativismo e solidariedade. Imaginemos um cenário familiar, onde há uma pessoa idosa, inválida, carente de ajuda para tudo: alimentação, higiene, companhia, transporte para consultas médicas. Haverá sempre um parental e omisso filho, que se declara não levar jeito e habilidades para esses cuidados mais primários e elementares. Como se dar de comer, auxiliar em um banho, uma troca de fraldas do idoso ou idosa, amparar fisicamente, ajudar com uma cadeira de rodas. Como se isso carecesse de um preparo e treinamento especial, específico. Demais. Pense bem. Ou seja, nesse último caso, temos o exemplo de um cara folgado, expansivo, escorregadio, aproveitador, esquiva dos sentimentos básicos de solidariedade e cooperação com alguém, pai/mãe. Existem certos tipos sociais e incivilizados incorrigíveis, recalcitrantes (homens e mulheres). E melancólico! Ter que aturar esses desqualificados torna-se aquele carma, aquela cruzeta ou trambolho a se carregar. Haja alforje e outros sacos de embalagem.

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